Soldagem costuma evocar imagens de faíscas e calor intenso. Essa cena clássica, comum em oficinas terrestres, é justamente como começa o vídeo “Por que os metais se soldam no espaço?”, do canal Veritasium, apresentado por Derek Muller. Mas, fora da Terra, onde não há ar nem oxigênio, o comportamento dos metais surpreende.
Durante a missão Gemini 4, em 1965, o astronauta Ed White realizou a primeira caminhada espacial dos Estados Unidos. Ao tentar fechar a escotilha da cápsula, enfrentou dificuldades inesperadas. Por alguns momentos, o silêncio nas comunicações gerou tensão. A suspeita inicial da NASA foi de que as dobradiças haviam se fundido por soldagem a frio. Mais tarde, descobriu-se que o problema era mecânico — um desalinhamento —, mas o episódio chamou atenção para esse fenômeno peculiar.
Para explicá-lo, Derek recorre a analogias criativas. Ele compara a estrutura metálica a uma barra de amendoim: os amendoins representam os íons metálicos e o caramelo, os elétrons livres que os mantêm unidos. Já a camada de óxido que impede a união direta dos metais na Terra é simbolizada por chocolate. No espaço, essa camada não se forma, ou é removida por atrito, expondo o metal puro. Quando dois metais “nus” se tocam, seus elétrons se combinam, e os átomos se fundem — sem calor, sem faíscas.
Essa união espontânea teve consequências reais. Em 1991, a sonda Galileo, enviada a Júpiter, falhou ao abrir sua antena principal. A causa provável foi soldagem a frio entre pinos e soquetes, após a perda de lubrificante durante o transporte terrestre. A falha comprometeu a missão, forçando o uso de uma antena menos potente.
Hoje, esse fenômeno é bem compreendido e medidas são tomadas para evitá-lo. A Estação Espacial Internacional, por exemplo, utiliza materiais com revestimentos, impurezas superficiais ou combinações metálicas menos suscetíveis à soldagem. A Agência Espacial Europeia também recomenda o uso de materiais diferentes, plásticos ou cerâmicas, e lubrificantes duráveis.
Curiosamente, a soldagem a frio tem aplicações promissoras na nanotecnologia. Já é possível unir fios de ouro em escala nanométrica, com precisão atômica e à temperatura ambiente — algo impossível com métodos convencionais.
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