Categoria: Orgânica

Você pode sentir o sabor do alho… pelos pés? A química responde!

Imagine provar alho sem colocá-lo na boca — na verdade, sem sequer cheirá-lo. Pode parecer improvável, mas esse é exatamente o fenômeno curioso demonstrado em um vídeo produzido pela American Chemical Society, no canal Reactions, que traz à tona um surpreendente truque de química alimentar: a capacidade de “sentir” o sabor do alho através da sola dos pés.

O experimento começa de forma inusitada: dois participantes se sentam em bancos, descalçam-se e colocam fatias de alho cru dentro de sacos plásticos, que depois são amarrados em torno de seus tornozelos. O narrador explica que a química nos permite experimentar alimentos de maneiras inesperadas — e esta é, sem dúvida, uma delas.

A ideia é apresentada como um “truque de festa”, e o vídeo recomenda alguns cuidados para garantir que o resultado seja mesmo causado por processos químicos, e não por simples inalação do cheiro do alho. O dente de alho deve ser fatiado em uma sala separada e isolado em um saco bem fechado. Só então, em outro ambiente sem qualquer traço de odor, os participantes devem colocar os pés descalços dentro do saco contendo o alho e mantê-los assim por cerca de uma hora.

Após esse tempo, os participantes relatam sensações surpreendentes: um sabor intenso de alho começa a surgir na boca, descrito como “ondas de sabor”, às vezes com um leve toque metálico. Além disso, o cheiro também se torna perceptível, mesmo sem contato direto com o alho no ambiente.

A explicação científica por trás desse fenômeno é fascinante. Não se trata de papilas gustativas nos pés, evidentemente. O responsável é um composto chamado alicina, presente no alho cru. Essa molécula possui propriedades químicas que a tornam capaz de atravessar as barreiras da pele — tanto as lipídicas (oleosas) quanto as aquosas. Uma vez absorvida, a alicina entra na corrente sanguínea e circula pelo corpo até atingir os receptores de sabor e olfato, localizados na boca e no nariz. É aí que o corpo “percebe” o alho, mesmo sem consumi-lo da forma tradicional.

O uso dos sacos plásticos é um detalhe importante: eles impedem que o cheiro do alho se espalhe pelo ambiente, assegurando que o efeito observado decorre unicamente da absorção transdérmica da alicina — ou seja, sua entrada no corpo através da pele.

Vídeo com legenda em português. Ative a exibição das legendas pelo YouTube.

Legenda do vídeo escrita por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br ). Texto revisado com ajuda de IA.

Extração de cloridrato de guanidina a partir de produtos cosméticos

No campo da química experimental, nem sempre as rotas tradicionais levam ao sucesso imediato. O canal NurdRage, conhecido por seus vídeos educativos e bem fundamentados, apresenta um excelente exemplo dessa realidade ao abordar a extração de Cloridrato de Guanidina — também conhecido como Cloreto de Guanidínio — a partir de uma fonte pouco convencional: um relaxante capilar classificado como “sem soda cáustica” (ou no-lye hair relaxer).

Motivado pela necessidade de obter Guanidina como precursor na síntese da Pirimetamina — um fármaco de importância médica —, o apresentador relata que sua tentativa anterior de sintetizar a substância falhou. Diante disso, recorreu a uma solução criativa: explorar a composição de produtos comerciais que pudessem conter compostos à base de Guanidina.

O processo descrito no vídeo inicia-se com a identificação do chamado “Ativador Líquido” presente no kit cosmético. Esse componente contém Carbonato de Guanidina dissolvido, o qual pode ser isolado por meio de um processo relativamente simples. Ao adicionar acetona — solvente encontrado em removedores de esmalte — à solução, ocorre a precipitação do Carbonato de Guanidina, formando um sólido branco facilmente separado por filtração.

Em seguida, o sólido obtido é dissolvido em ácido clorídrico. Essa etapa transforma o Carbonato de Guanidina em Cloridrato de Guanidina, liberando dióxido de carbono como subproduto. Após nova filtração para remover impurezas insolúveis, realiza-se uma destilação a vácuo, com o objetivo de eliminar a água residual e o excesso de ácido, resultando na obtenção do Cloridrato de Guanidina em forma sólida e seca.

Ao final do processo, o NurdRage consegue isolar cerca de 15 gramas do composto desejado. Apesar do sucesso, ele ressalta que o método é economicamente inviável para produção em maior escala, servindo mais como um recurso emergencial ou demonstração experimental. Ainda assim, o procedimento lhe proporciona o último precursor necessário para prosseguir com sua série dedicada à síntese da Pirimetamina.

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Legenda do vídeo escrita por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br ). Texto revisado com ajuda de IA.

Bastão de luz pulsante: Um experimento químico incrível em vídeo

Em um dos vídeos mais intrigantes do canal NurdRage, é demonstrada a realização de uma reação quimioluminescente oscilante — um fenômeno raro e visualmente impressionante, popularmente conhecido como “bastão de luz pulsante”. Trata-se de uma reação química que, em vez de produzir um brilho constante, emite pulsos regulares de luz azul, como se a própria solução respirasse em flashes luminosos.

A preparação requer precisão e atenção rigorosa à segurança. Inicialmente, dissolve-se o sulfato de cobre penta-hidratado em água, formando uma solução separada. Em um recipiente maior, combinam-se tiocianato de potássio, hidróxido de sódio (substância fortemente corrosiva) e luminol, também dissolvidos em água. Em seguida, as duas soluções são misturadas, ajustando-se o volume total para aproximadamente um litro com água destilada.

Opcionalmente, pode-se aquecer a mistura a cerca de 50 °C. Essa etapa não é essencial, mas intensifica o fenômeno: os pulsos se tornam mais rápidos e mais intensos, oferecendo um espetáculo ainda mais marcante.

O momento crucial ocorre com a adição cuidadosa de peróxido de hidrogênio a 30% — outro composto corrosivo que exige o uso de luvas de proteção. Quando as luzes do ambiente são apagadas, a solução exibe inicialmente um brilho azul fraco. Após alguns instantes, inicia-se uma sequência hipnotizante de pulsos de luz azul brilhante, que surgem, desaparecem e se repetem em ciclos. Segundo o vídeo, esses pulsos ocorrem naturalmente com um intervalo de cerca de 30 segundos, embora essa periodicidade tenha sido acelerada na edição para fins demonstrativos.

A reação prossegue com seus ciclos luminosos até que os reagentes se esgotem. Trata-se de um exemplo impressionante de como a química, além de ser uma ciência exata e rigorosa, pode também nos oferecer experiências estéticas e sensoriais únicas — uma verdadeira dança de luz e moléculas em movimento.

Vale destacar que o vídeo inclui advertências sobre a manipulação de substâncias perigosas, como o peróxido de hidrogênio concentrado e o hidróxido de sódio, ambos altamente corrosivos. O uso de equipamentos de proteção individual, especialmente luvas resistentes a produtos químicos, é indispensável para a realização segura do experimento.

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Legenda do vídeo escrita por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br ). Texto revisado com ajuda de IA.

1-octen-3-ol: Aroma de Cogumelo e Desafios da Química Orgânica

Este vídeo apresenta a síntese do 1-octen-3-ol, composto conhecido pelo aroma de cogumelo e por atuar como atrativo químico para insetos que picam, como mosquitos. Naturalmente presente no suor e na respiração humana, é de interesse em estudos sobre comportamento de insetos.

Após uma rota inicial ter falhado, adotou-se uma abordagem em duas etapas: reação de Aldol seguida por redução do tipo Meerwein–Ponndorf–Verley (MPV).

Na primeira etapa, a 2-heptanona reage com formaldeído na presença de hidróxido de sódio em meio aquoso. O intermediário formado, um beta-hidroxi aldeído, sofre desidratação sob aquecimento, produzindo 1-octen-3-ona. O produto bruto é extraído com tolueno, seco com sulfato de magnésio anidro e filtrado. A purificação por destilação a vácuo resulta em rendimento muito baixo, cerca de 2%.

Na etapa seguinte, a 1-octen-3-ona é reduzida a 1-octen-3-ol usando isopropóxido de alumínio em isopropanol anidro. A reação ocorre em sistema de destilação fracionada, permitindo a remoção contínua da acetona, o que desloca o equilíbrio em favor do produto.

Apesar do esforço, o teste informal com o 1-octen-3-ol não demonstrou atração significativa de insetos. Para concluir, o narrador observa, com certo desapontamento, que o composto poderia ter sido comprado por um custo menor que o dos reagentes utilizados.

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Legenda do vídeo escrita por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br ). Texto revisado com ajuda de IA.

O que é e como funciona o Clevenger

Se você é um químico, provavelmente já ouviu falar do aparelho Clevenger. Esta ferramenta simples e versátil pode tornar suas experiências químicas muito mais práticas e eficientes.

Mas o que exatamente é o aparelho Clevenger? Basicamente, ele é uma versão adaptada, em modo duplo, do conhecido aparelho Dean-Stark, que é amplamente utilizado para remover líquidos de misturas por meio da separação de fases. Em outras palavras, ele separa líquidos de diferentes densidades de uma maneira fácil e organizada.

Um dos maiores diferenciais do aparelho Clevenger é que ele pode funcionar em dois modos: o modo de retorno leve e o modo de retorno pesado. No modo de retorno leve, a fase mais leve da mistura retorna automaticamente ao frasco de ebulição, enquanto a fase mais pesada fica armazenada para ser drenada posteriormente. Já no modo de retorno pesado, acontece o inverso: é a fase pesada que retorna ao frasco. Este segundo modo exige um pouco mais de intervenção manual, já que você precisará drenar a fase leve e trocar os recipientes conforme necessário.

Outra grande vantagem mencionada é a praticidade do Clevenger em comparação às improvisações feitas no laboratório. Ao invés de adaptar peças ou improvisar soluções, usar um aparelho projetado especificamente para essa função torna tudo mais simples, rápido e seguro.

Por fim, vale destacar que alguns aparelhos Clevenger são desenvolvidos exclusivamente para o modo de retorno pesado, o que pode ser especialmente útil em aplicações específicas, como a extração de óleos essenciais. Se este é o seu caso, talvez essa seja exatamente a ferramenta que estava faltando no seu laboratório!

Vídeo com legenda em português (ative a legenda pelo YouTube)

Texto e legenda escritos por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br )

Como Produzir Dimetil Dioxano a Partir de Propilenoglicol

Neste vídeo, o NurdRage mostra um procedimento interessante: como produzir dimetil dioxano a partir de propilenoglicol, uma substância que pode ser encontrada em anticongelantes automotivos vendidos no mercado.

O primeiro passo é obter o propilenoglicol puro, já que o anticongelante comercial possui diversos aditivos que podem prejudicar a síntese. Para isso, realiza-se uma destilação que separa e purifica o propilenoglicol.

Com o propilenoglicol já purificado, inicia-se a reação de condensação, catalisada por ácido sulfúrico. Nessa reação, duas moléculas de propilenoglicol se unem, formando dimetil dioxano e água como subproduto. O resultado é bastante visual: o dimetil dioxano formado não se mistura com água, criando duas camadas facilmente identificáveis.

Em seguida, o vídeo demonstra uma etapa adicional importante: a destruição de impurezas residuais com o uso de uma base forte, como o hidróxido de potássio. O produto final, agora purificado, é coletado por destilação numa faixa de temperatura entre 117 e 120 graus Celsius.

O dimetil dioxano produzido tem aplicações úteis, especialmente como solvente em extrações líquido-líquido, semelhante ao éter dietílico, mas com a vantagem de ter um ponto de ebulição mais elevado. Porém, vale lembrar que ele é sensível à hidrólise quando em contato com ácidos, especialmente em temperaturas mais altas.

Finalmente, o NurdRage deixa uma recomendação importante sobre o armazenamento: o dimetil dioxano deve ser guardado sobre sódio metálico, pois isso evita a formação de perigosos peróxidos, garantindo assim segurança e estabilidade durante o armazenamento.

O vídeo tem legenda em português – ative a legenda pelo YouTube.

Texto e legenda escritos por Luís Roberto Brudna Holzle – Professor Doutor na Universidade Federal do Pampa ( luisholzle@unipampa.edu.br )